terça-feira, agosto 09, 2005

Estação central

O comboio seguia para sul.Para trás tinham ficado dois anos da sua vida, deixados na caixa do correio juntamente com as chaves do apartamento. Ainda esrevera uma nota de despedida, mas tinha acabado por rasgá-la. As chaves sozinhas diriam mais do que ela seria alguma vez capaz de expressar.ainda lhe ecoavam nos ouvidos as palavras amargas das últimas semanas, as frases ditas sem pensar, mas sentidas há muito tempo. Apanhara o primeiro comboio para sul. Decidira ir a Roma, sempre tinha querido conhecer essa cidade.
A carruagem estava cheia, havia inúmeras pessoas de pé, todos falavam alto, o calor era intenso.Pouco lhe importava.
Sorria, sem entender bem porquê. Talvez de esperança. Fechou os olhos e deixou-se embalar pela cadência monótona do comboio em movimento. Adormeceu.
Ele esperava o comboio do sul.
Nele deveriam vir os seus amigos, com quem combinara encontrar-se em Roma. A estação fervilhava de pessoas de todas as idades, raças, credos, uma amálgama de gente, colorida e agitada. Chegara com uns dias de antecedência. Logo que se reunisse com os outros, partiriam para a Grécia e depois para a Turquia. Seguir-se-ía a Ásia. Tailândia, Malásia, Índia e talvez o Nepal. Não existia limite para o fim da viagem.Tinham o passado dois anos a trabalhar enquanto acabavam a faculdade. Agora passariam outros dois a viajar, a conhecer mundo, antes de regressarem à Argentina.
Ela acordou. Havia uma movimentação de malas e sacos em todos os sentidos dentro da carruagem.Olhou para o relógio.Deviam estar mesmo a chegar a Roma. Não tivera tempo de avisar a única amiga que conhecia na cidade, uma siciliana que morava num pequeno estúdio ao lado do vaticano. Era Agosto, lembrou-se de repente que fiorella poderia estar em Palermo. Não se preocupou tinha tomado a decisão de partir, tudo o mais deixara de ter qualquer importância. O comboio abrandou a sua marcha e acabou por parar, com um solavanco que lhe pareceu de alivío. Uma por uma, as pesssoas íam saíndo.
No meio da agitação, ele tentava em vão descobrir um dos amigos.Desviando-se aqui e além de uma bagagem abandonada ou de um turista distraído, percorreu com o olhar todas as carruagens até se certificar do que já lhe parecia evidente.
Eles tinham perdido o comboio, restava-lhe esperar pelo próximo.
Desanimado, preparava-se para abandonar a estação quando a viu. Ela distinguiu de imediato a sua cabeça loira no meio da multidão. Ambos sorriram porque souberam logo que se íam conhecer.

Cláudia Clemente
Arquitecta

1 comentário:

Anónimo disse...

Vago. Bonito. Inspirador.