sexta-feira, abril 14, 2006

Colisão e uns gramas a mais

Aproveitar para ver cinema é o que faço quando vejo que não há ideia de programa noctívago. E porque da rapidez de convite desconfio sempre (ou a noite corre mal ou muito mal), socorro-me de um ou outro dvd que tenha comprado e que ainda não tenha visto.
Isso aconteceu recentemente com os filmes premiados pela ceita dos oscares o "colisão" e com o "vinte e um gramas".
Não tinha nenhuma expectativa este ano em relação a este filme o que de alguma forma distanciou-me de qualquer comentário a um comentário. Não li nada em lado nenhum, não vi um anúncio sequer e apenas soube que tinha ganho os óscares antes de o comprar, que até nem foi factor de compra...pensava eu.
Tudo muito antagónico ao que seria de esperar; mas não, não precisei desses mecanismos ilusórios que me influenciariam certamente.
No final achei a encruzilhada subjacente ao racismo sublinhada mas nunca resolvida.
Um dos problemas apontados é que é o desígnio social auto-imposto que sujeita a raça dita menor, que a limita e que a detém como por outro lado a iminente proximidade com as fragilidades sociais asfixia o comportamento de pessoas com uma vida intransponível e estável e que as transporta para um estado de alerta constante.Que pune e castiga por medo e indiferença.
Parece haver 10 casos onde a questão racismo e marginalização é diferenciada e que se vão unindo à medida que o fime avança. Inter-ligação de personagens aparentemente dissonantes.
Ou seja, é tratada singularmente como se fôssemos testemunhas e pudéssemos julgar e definir racismo com a sensibilidade de um jurí de uma sentença. Aqui surge talvez a maior das virtudes do filme, é fazer entender que partilhamos um mundo muito corrosivo, ácido mesmo e que não sabe balizar a diversidade dos problemas das diferenças. Não sabemos partilhar, não sabemos o que é flexibilidade social e ainda não entedemos como viver em comunidade. Porque as diferenças existem. Elas existem mesmo. Não se condenem por elas, não condenem ninguém por elas. Mas é um facto tão estrondoso que assusta. Aprendam é a viver das diferenças e não a matarem-se por falsas igualdades. A igualdade do respeito e do direito humano é que não podem ser postas em causa.
Pergunto-me diariamente se a televisão que vêmos em casa todos os dias, a toda a hora é liberdade de expressão, liberdade de informação e de imprensa. Pergunto-me também se não vivemos com excessos de alarmismos. Ou se daqui a uns anos não estaremos a a ter refeições contadas ao miligrama porque de outra maneira faz mal à saúde. Para depois descobrirem que uma alimentação muito regrada pode levar a comportamentos inadequados e doentios!
Alguém sabe o que é o equilíbrio?andamos "todos" à procura de um equilíbrio (o famoso) e esquecemo-nos do resto... E o resto é mesmo... viver!
Num dia aparece como primeira imagem, no outro dia desmente-se tudo com a mesm ligeireza. E vivemos assim, de opiniões facilmente descartáveis que nos vão reduzindo a pó informativo. Que nos reduzem a nada. E depois tememos tudo. Temerosos porque as minorias sociais e étnicas são terríveis e nunca saímos da caixa, da enorme redoma que angelicamente nos protege e tão ferozmente nos tritura/consome. Em tom de piada: a bolha do actimel! E a vida a correr lá por fora...

O outro filme é mais intenso. muito mais intenso. com imagens que para mim foram inéditas do cinema. muito bem montado, bem pensado. A cena do atropelamento é de tal forma pungente que arrepia o bastante. Talvez tenha par na cena do "américa proibida" onde é o som que nos dá a morte. Genial.

6 comentários:

disse...

Brilhante análise.
Quando vi o Colisão também não tinha qualquer informação, fui meio às escuras, que é como gosto de ir para a maior parte dos filmes (geralmente é impossível) e saí de lá (isto no Verão) com uma sensação muito estranha!

O 21 gramas foi outro...

Mary Mary disse...

Sem dúvida o "21 gramas"...

joaopedromira disse...

sim, sem dúvida. Os dois causam uma sensação estranha. Um porque persegue a origem da raiva urbana entre personagens racial e socialmente distintas que ganha tentáculos diferenciados.A dificuldade de contar uma história recorrente das urbes e dos seus desequilíbrios requer uma sensibilidade muito certeira que neste caso não me convenceu.
O segundo detém um poder único nas sequências de imagens que interligam e transportam a história de um coração que vive duas vidas.Cada frame é apoiado com ideia. É um filme de vida, de morte e sobrevivência, mas é dos bons! Para além de que a naomi watts, o benicio del toro e o sean penn pura e simplesmente arrasam!

Mary Mary disse...

O problema do Crash é que ficamos sempre com aquela do "Falta ali qualquer coisa..."! Têm uma ideia gira para um livro de 500 páginas em que se pode dissertar sobre tudo o que o filme retracta. O problema mesmo é passá-lo para o ecran.

"In any real city you walk and brush past people in the sidewalk, bump people, In L.A. nobody touches you. Always behind this metal and glass. I think we miss that touch so much that we crash into people just to feel it again."

Mary Mary disse...

How many lives do we live? How many times do we die? They say we all lose 21 grams... at the exact moment of our death. Everyone. And how much fits into 21 grams? How much is lost? When do we lose 21 grams? How much goes with them? How much is gained? How much is gained? Twenty-one grams. The weight of a stack of five nickels. The weight of a hummingbird. A chocolate bar. How much did 21 grams weigh?

Será o peso da nossa alma? E para quem não é crente qual é a explicação cientifica para isto? A ideia da alma a sair do corpo é muito mais romântica e católica também! Já lá vão muitos meses desde que vi o filme mas fiquei sempre com estas perguntas na cabeça e acho que dava uma óptima discussão não fosse o facto de terem sido poucas as pessoas que viram este filme.

joaopedromira disse...

é, o tv trailer do filme estava mto fixe.
talvez dos melhores que vi nos últimos anos!
mesmo.

Todos queremos mesmo acreditar q sim, que o que somos na vida cabe exactamente nessa pequena porção; Nesses 21 gramas.