quarta-feira, março 07, 2007

O labirinto de Fauno

Se há coisa que me faz falta é um cartão papa-cinemas, aquele passaporte para todos os filmes a um preço controlado e seguramente compensador no orçamento curtinho que persiste sobre a forma de teimosia. Porém, ninguém me tira essa boa sensação de poder comprar a entrada para um universo mágico, estender a mão da miséria e no fim receber por isso, o mais belo dos convites , por dentro: um verdadeiro contador de Estórias. Então digo que hoje abri mão a dinheiro que jamais questionarei, jamais recorrerei a mecanismos de forretice para explicar esta ida à sala de cinema, porque, de facto, ele vale por isso.
Esse interesse inicia-se no trailer que promete somente um mundo maravilhoso, sendo mais do que um título, cartaz ou rol de actores. Sempre soube que a promoção de filmes é, como qualquer produto que se preze, um piscar de olhos à sensibilidade do espectador, o elemento gerador de diferenciação dos demais que estimule a ida e a superação sobre os custos inerentes: o chamado "clic"! Mas há filmes que, não deixando de pensar assim, pois nenhum sobrevive sem ouro, estabelecem um compromisso de seriedade e de sonho desde o pequeno pormenor como o filme promocional; e conseguem-no aqui reservando-o à surpresa, apesar de, aparentemente, dizer tudo em tão frágil aparição. Este é um exercício complexo e resulta tão simplesmente na vontade de ir vê-lo em grande, e aí, mesmo com a expectativa denunciada, o filme consegue ser forte e muito resiste ao aparente descuido do marketing. Esta subtileza consegue ser apenas uma entre tantas que o filme oferece quando ainda não começou. A magia revela-se...
Pan´s Labyrinth é mesmo um grande filme, mas desenganem-se os que tropeçaram (todos excepto os que lêem críticas, imdb e compª) porque não é para crianças como poderá primeiramente deixar entender... É antes uma história que pode ter, quanto a mim, duas perspectivas, as duas com sorrisos nos lábios, as duas palpitantes e merecedoras da obra; digo mais: este filme consegue a proeza que nenhum filme do Shyamalan consegue, adiantando ainda que o orçamento aprovado e provado deve ter sido de uma elegância e por isso espremido até ao último tostão, garantindo, mesmo assim, um Universo Visual tão expressivo e pungente quanto apaixonante e que em nada deve ao Filme Americano. Não há muita coisa que mudasse, conheço poucos que o conseguem e me façam dizer isto. Esta é uma película que não precisa de sorte porque tem talento, tem gosto e sensibilidade. É um filme fantástico sobre o Fantástico ou então sobre o hipotético.

nota ainda sobre o casting da pequena princesa, a Ofelia no filme; não vi as outras mas esta era a que teria escolhido. É simplesmente brilhante e não se apoia meramente na sua beleza natural mesmo que indutora de inteligência comportamental nos consequentes gestos e posições, mas aí manda a realização a fotografia e a restante Equipa e, só então, o seu génio pode trabalhar.

ainda sobre o filme escrevi-te:
(...)
A dupla possibilidade é o grande sucesso do filme,
pode ser a Ofelia e a sua imaginação, pode ser um conto de fadas no meio de uma realidade desconjuntada.
...o realizador deixa essa possibilidade no coração dos espectadores:
para os mais cépticos a fins fantasistas e para aqueles que tb querem acreditar no destino de ofelia não se tenha resumido a uma morte.
É a grande virtude do filme..talvez uma liçao para o Shyamalan e os seus "Fins".
(...)

Sem comentários: