sexta-feira, julho 06, 2007

As palavras Interditas

Os navios existem, e existe o teu rosto
encostado ao rosto dos navios.
Sem nenhum destin flutuam nas cidades,
partem no vento, regressam nos rios.

na areia abranca, onde o tempo começa,
uma criança passa de costas para o mar.
Anoitece. Não há dúvida, anoitece.
É preciso partir, é preciso ficar.

Os hospitais combrem-se de cinza.
Ondas de sombra quebram nas esquinas.
Amo-te...E entram pela janela
as primeiras luzes da colina

As palavras que te envio são interditas
até, meu amor, pelo halo das searas;
se alguma regressass, nem já reconhecia
o teu nome nas suas curvas claras.

Dói-me esta água, este ar que se respira,
dói-me esta solidão de pedra escura,
estas mãos nocturnas onde aperto
os meus dias quebrados na cintura.

Ea noite cresce apaixonadamente.
Nas suas margens nuas, desoladas,
cada homem tem apenas para dar
um horizonte de cidades bombardeadas.


Eugénio de Andrade

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