domingo, novembro 11, 2007

Rapaz de Giz

Era uma vez a história de um rapaz de giz que vivia na terra das escolas. Este rapaz vivia num mundo do conhecimento e tinha as respostas na ponta do seu giz...Tinha nascido um giz de cor escura, e apesar do seu saber o giz de cor era pouco utilizado, era sempre o branco, sempre o branco. O rapazinho sabia que tinha nascido com a cor errada, sabia que nunca iria ser utilizado, mas ele era bom aluno e bom sabedor e gostava de conseguir acreditar mas mal se olhava ao espelho percebia que era uma cor feia, não servia o propósito de ninguém, a sua cor pouco luminosa não contrastava com a ardósia comum de uma sala de aula. Nela a sua cor perdia-se, misturava-se no preto e não sobressaía, as suas qualidades pareciam esquecer-se e ninguém via o que escrevia. Este menino raramente saía já da caixa de cartão que continha o material da sala de aula, ele já não via a luz há muito tempo. Imaginava um dia poder ouvir o som da caixa a abrir-se e alguém pegar nele, mesmo que fosse para poisá-lo junto à base do quadro, onde todos os outros meninos de cores mais abertas brincavam e observavam a aula. Mesmo que fosse isso apenas, já seria mágico. Este menino de giz ficava-se pelos sons, e tão pouco já se recordava das aulas e de como era aquele imaginário. Já não conhecia os meninos de aula; as turmas foram passando uma após a outra sem ter saído sequer da caixinha de cartão encarnada. Os dias passavam e nada fazia crer que saísse mais, nada fazia crer que este menino de cor escura iria ser utilizado, nem para uma conta de somar ou de subtrair, nem para uma correcção de um ditado, nem para um desenho de expressão plástica. Nada, absolutamente nada. Por dias perguntou-se o porquê de ter aquela cor, o porquê de alguém ter escolhido tal cor que jamais iria ser utilizada! Sentia-se injustiçado, sentia-se envergonhado e feio, perdido mesmo. Já nem conversava com os outros meninos de giz porque sentia-se diferente, amargurado com a sua cor que não escolhera, e no entanto sabia tanto, sabia mais que todos os outros juntos, o seu tema preferido era Geografia pois um dia gostaria de viajar para um mundo diferente, para uma escola que tivesse tudo ao contrário, entre eles um quadro branco, tão branco que a sua cor resplandeceria imenso, criando o mais bonitos dos contrastes. Imaginava-se expressivo nesse quadro...mas não havia ardósias brancas. Não saberia como isso iria ser possível, mas o sonho fez com sorrisse por uma vez na sua longa vida. Curioso o percurso de vida de um pau de giz, a sua vida encurta conforme o seu sucesso, vai-se gastando de tantas e tantas contas e textos, e assim vai vivendo, uma vida feliz! Um giz parado pode durar mais tempo mas, por dentro, não terá realmente vivido.Um dia o menino de giz dormia, os seus olhos cansados fechavam-se desenhados, pois que foi então que um menino que fugia de outros entrou pela sala dentro para se esconder. Alvoraçado lá se pôs debaixo da mesa da professora. Escondeu-se e prometeu silêncio a ele mesmo, pois ou era isso ou uma tortura dos meninos mais velhos que implicavam com os mais calados. Passados uns minutos lá se mexeu e foi então que viu uma caixinha encarnada na prateleira da secretária da Professora da Sala amarela. Levantou a mão e com um movimento despachado lá retirou a caixinha. Esperou uns segundos na esperança que ninguém tivesse ouvido nem visto o movimento e lá pôs a caixa entre as pernas cruzadas. Olhou para ela e sorriu, lembrou-se que lhe tinham dado uma vez uma prenda numa caixa parecida aquela. Curioso não conseguiu esperar mais um segundo que fosse e levantou a tampa que a fechava. Revolveu a caixa e encontrou uma caneta, um lápis de riscas amarelas e pretas, uma tesoura azul, uma borracha, apara-lápis verde luminoso e lá bem no fundo encontrou um pauzinho de giz de uma cor que não sabia o nome, mas era uma cor muito mas mesmo muito escura. Sabia que não era preto e perguntou-se para que finalidade tinha. Pensou, pensou e nenhuma ideia lhe veio à cabeça já que no quadro não poderia ser! - Mas para que serve uma cor tão escura que mal se vê? perguntou.Este menino curioso não se deixou vencer pelo mistério e reparou que este pauzinho tinha qualquer coisa de diferente em relação a todos os outros e não era apenas o seu tom. Curiosidade começava a crescer e para ele resolver aquele mistério fez com que se esquecesse de tudo o resto. Destemido levantou-se e foi buscar ao quadro um pauzinho branco de giz e comparou com o que tinha encontrado na caixinha... Então sorriu e percebeu que a diferença existia mesmo, o pauzinho do quadro era mais seco e partia-se com facilidade, enquanto que o da caixinha de cor era mais macio e moldável. Percebeu logo que aquele aquele giz afinal não era um giz mas sim lápis de cera, um lindo lápis de cera com uma cor fascinante e fora do comum! Num outro dia este menino pediu à professora se podia ficar com este lápis pouco utilizado e a professora de sorriso aberto concedeu-lhe aquele desejo tão simples. Era o mais belo dos lápis de cera e ele foi a correr para casa mostrar aos seus pais aquele lápis, só parou em casa e foi sempre numa correria gigante até ter o seu lápis de cera são e salvo! Foi logo mostrar ao seu pai pintor que lhe disse que aquele lápis de cera tinha um outro nome. Era um Pastel das melhores marcas europeias e estava como novo. Era de uma marca rara Holandesa e só os grandes pintores os tinham! Fascinado o pequeno rapaz olhava para o seu "lápis" e disse: Um dia serei Pintor, até lá serás sempre o meu "lápis" e protegerei-te sempre...O menino cresceu , um dia o menino tornou-se pintor como o tinha dito e todas as suas obras foram assinadas com este Lápis pastel de uma marca antiga Holandesa...


Domingo, março 11 2007

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