sábado, agosto 09, 2008

Menino de areia

Ontem fui falar ao menino de areia. Ontem, no desequilíbrio do sol, o fim da tarde, usei a vestimenta que não é usual e quis vestir-me de sol e de areia, quis fazer aquilo que ainda não tinha feito este ano, quis esperar e aguardar-te, mas não foi possível...
Já te tinha visitado mas não te tinha tocado, nem falado contigo.
Debaixo de águas que não as de mar nem oceano fui falar com o menino que vive por dentro da areia, não de uma areia qualquer, aquela areia.
O menino não se apercebeu da minha chegada, sentiu-me incompleto e não me quis visitar. - És tu? Como podes ser tu se vens só? perguntou o menino de Areia na sua fala granulada. - Não sabia se estarias por aqui, não sabia se me abririas a porta mesmo só a metade de mim. Respondi eu de cara rebaixada e nó na fala. - Hoje o mar está arisco. Não te atrevas a entrar, sim? Conta as ondas e deixa-o acalmar... Sabes, o mar chega a todo o lado, toca-me mas também chega a outras praias. Eu conheço-o muito bem, e sei o porquê da sua força, mas o mar serena, vais ver... Disse o pequeno menino de pequenos grãos de areia. - Mas não foi isso que vim saber!...Menino de Areia? Menino? Estás aí?Assim que acabei estas palavras soltou-se um leve vento que trouxe um sombreado de areia rasteiro às dunas da praia. Era ele a responder sem eu ter perguntado alguma coisa. Era um exército de areia feito de mil milhões de grãos levantados que me cobriram. - Obrigado por me teres abraçado, menino de areia. Obrigado por estares sempre aqui. Disse, fechando os olhos ao vento. Debruçado sobre a areia, debruçado sobre ti, a minha sombra foi ficando maior, foi ficando gigante e eu pequenino. O sol desceu para me olhar nos olhos, o volume do mar cantou, as saudades trouxeram castelos de areia feitos por nós à beira de um menino atento aos barcos do mar, as velhas barcaças do Tejo, às cores dos nossos sonhos e aos sorriso de meninos que juntos embandeiramos ao vento sem querer.
Despedi-me e prometi voltar, estendi a palma da mão sobre ti, menino que tocas o mar, e desenhei sobre a memória do teu rosto, a forma do teu sorriso, o teu sabor. O sol abriu sombras e guardou esses sorrisos, disse-me adeus. Até amanhã sol...

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