domingo, setembro 07, 2008

O senhor que tinha tudo nos bolsos...



















Havia um senhor que tinha uma profissão estranha e vivia numa casa ao fundo de uma rua muito inclinada. Ela era tão inclinada que mal se via o seu fim. Tudo o que se pedisse o senhor tinha nos bolsos do seu longo casaco de tons encarnados. Eram muitos os bolsos e mais ainda as coisas que eles tinham lá dentro! Tinha bolsos por fora por dentro, tudo eram bolsos! Nunca houve um dia que alguém o surpreendesse, até ter chegado a Francisca das pernas compridas, que não se conseguia apaixonar nem criar amizades por ter vergonha das suas longas pernas. Eis que um dia, cansada de tanto gozo na escola, e de ter poucos amigos, foi ter com o senhor dos bolsos ao fim da rua inclinada. Desceu e desceu a rua na tentativa de o encontrar o mais rápido possível e depois de perguntar pelo senhor do velho casaco cheio de bolsos lá o achou! Bom dia! O senhor é...o senhor dos bolsos? Sim, sou eu...respondeu o velho senhor de sorriso meigo. Agora vejo, os seus bolsos não têm botões! Porquê é que não têm botões senhor dos bolsos? - Bem, o meu casaco é muito antigo pertenceu ao meu Bisavô e ele deu o casaco ao meu pai e eu herdei-o assim como esta linda profissão, o meu pai contou-me que não precisamos de bolsos com botões porque estamos sempre a tirar coisas lá de dentro para oferecer às outras pessoas e assim é mais prático, não temos que andar sempre a abrir e a fechar os botões. Consigo arranjar tudo sabias? Aqui nos bolsos... O senhor leva a mão a um dos muitos bolsos e tira um lindo moinho de vento feito de papel cheio de cores. Toma é teu...
-Sempre quis ter um moinho de vento como este! Obrigada! Como sabias? -Bem, os Bolsos também adivinham o que as pessoas querem, disse o senhor rindo-se suavemente perante a menina Francisca das longas pernas fascinada.
-Mas senhor, será que consegue adivinhar o que realmente me traz a si?
-Bem, eu pensava que... disse meio engasgado, mas a menina interrompeu e acrescentou logo, -Sim, eu sei que sabe...são os bolsos não é? Os seus bolsos sabem tudo...
-Sabes Francisca...se calhar há coisas que estes bolsos podem não ter...
-Não é verdade senhor dos bolsos! disse prontamente, interrompendo. Afinal os seus bolsos têm mesmo tudo, afinal adivinhou o que precisava, e era mesmo o moinho, ou melhor, o que precisava era mesmo de um sorriso amigo, de me darem essa amizade sem eu ter que pedir. Sem olharem para as minhas pernas esquisitas apenas e troçarem de mim...
Sim, é verdade Francisca...disse o senhor no seu tom sereno... e assim foi a subir a rua depois de agradecer ao senhor dos bolsos, o seu novo amigo da rua muito inclinada de bolsos cheios de sonhos e cores, amizade e sorrisos. Até amanhã Senhor...

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