domingo, julho 02, 2006

Metade número dois

Os distúrbios da cidade provocam-me.
Imagino-me a descansar numa esplanada, a beber algo, onde possa . As pessoas não imaginam como é estar sozinho num local depois do que enfrentei; pelo que passei. Ali não há partilha, só eu e o sítio.
Porque por momentos tenho paz, até trancar os olhos em pensamento. Memórias.
Um medo é-me servido diariamente e com ele convivo como se fosse mais uma peça sem lugar definido . Apenas as camadas que estilizam a paisagem acolhem-me na altura de construir futuro; sonhar.
As pessoas agem ordeiramente e ao pequeno movimento em falso eu noto; pressinto. Eu entendo aquela cidade como se fosse o meu último instante. Uma última passagem.
Mesmo sobre essa condição de pena a que a vida me submete, essa frugalidade constante, não ouso enfrentar o passado. Não ouso sequer percebê-la como um possível síndroma pictórico recorrente. Mas esse é o primeiro descontrolo. Instala-se a inevitabilidade e quase sempre o pânico. A Rapariga que me distrai e mantem alerta, corre diante do autocarro. de forma a conseguir chegar a tempo. A porta abre. Eu saio. Os meus olhos fecham ao reflexo do som do bater das portas. O barulho instala-se na minha cabeça. O som transforma-se em algo pungente e demolidor; Dilui-se. Persegue-me. São lembranças que vão chegando; e eu, a querer despertar. Deixei cair a minha Reflex no chão e sem dar por isso a minha mão treme descompassadamente. A lente cai sobre o corpo e quebra num lancil de uma rua qualquer. De repente estou lá outra vez. Oiço de novo vidas a parar; interrompidas. Oiço-me constantemente; frenético. A rua passou a ter nome de general e eu passei a ser um alvo a abater. Sou repórter de guerra.
Capto as cápsulas a embater no chão a uma velocidade estonteante. A vida é também ela uma cápsula. Para alguns vive-se para além dela. Para os que transpõem essa ténue linha por entre o desafio e o desconhecido, entre uma imagem e uma oportunidade de vida, já não haverá mais voz que cale e que apague a fotografia sangrada tirada por uma lente de 50mm.
Acumula-se a sujidade e o nojo por nada ter feito. Apenas não consigo...

2 comentários:

Mary Mary disse...

Muito bom! Adorei a continuação... Consegui imaginar tudo, fantástico! :)

joaopedromira disse...

Eu preciso de rever o texto. Escrevi de noite e estava cheio de sono. Deve estar desconexo. Não vai ser hoje...