quinta-feira, dezembro 28, 2006

Vincos sobre o que não se esquece

Dos dias passados contamos histórias por dentro, sobre as quais tememos partilhar ou contar, contamo-nos isto e aquilo, e desenhamos imagens rarefeitas mas tão cheias de presença, tão singulares que nos fazem rir, sorrir, ou então emoções pendentes, rastejantes, penosas mesmo; choramos largas lágrimas de tristeza, de perdão e choramos o não acontecido, por dentro dessas histórias que podem ser de lenta dissecação, que leva tempo sobre os pensamentos mais vulgares. Exactamente por imaginarmos, por termos essa inresponsabilidade quase diária de invocar sentimentos teimosos, persistentes que nos dobram, vincam, magoam, é que lembramos dessa impossível subtileza não utilizada a que se chama memória totalmente apagada. Quantos de nós ousam esquecer alguém ou um lugar associado sem pensar que não se vai esquecer assim, refém de uma vontade momentânea. Quantas tentativas de imagens apagadas relembram outras? Sequências inteiras que me diziam: volta. Teço à minha volta fibras de esquecimento mas a minha coragem insiste nos berros que me dás por dentro e elas desistem logo ali, esfarelam-se.
Solto-me? Aquela viagem que me fez parar no centro da europa resume-se a pouco. Tu foste-te de vez sobre passos largos depois da linha de fronteira...subsiste, prevalece o sentimento sobre a imagem, e depois novamente aquela triste imagem que nos surge logo mais uma vez; recorrente- assim de tempos em tempos. Nunca serás um país esquecido, tens a impossibilidade e a minha vontade como prova irrefutável.

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