domingo, agosto 31, 2008

Papel, lápis de cor, viola e eu

São músicas que nunca saem iguais, são sons tocados e que escrevem o momento, são desenhos e mais desenhos feitos num bloco granulado quase por estrear, são histórias para escrever, são albuns por finalizar, são momentos meus.

sábado, agosto 30, 2008

Passado Lembrado

Resolvidos os passados peçonhentos, demito-me na retenção de memórias. Hoje dobrei o lençol da minha cama como nunca o tinha feito. Fi-lo ainda assim como alguma estranheza, a falta desse hábito era mais que evidente; levantei-me distintamente e ao debruçar-me percebi que tinhas ficado. Fitavas-me com olhares perigosos enquanto o debrum do lençol desenhava o teu corpo incansável. Permaneceste porque só eu achei que não tinhas lugar naquela casa arrendada, meio perdida por entre paredes sub-urbanas. Era um casco cheio de falhas amparadas pela vontade do pouco dinheiro que abundava na minha carteira. Senti-lhe o fundo. Lembrei-me que já nem carteira tenho visto que a penhorei naquela ruela por detrás do antigo bairro onde morei. Ela percebe que eu temo que um dia vá embora, como todas as outras fizeram, porque eu sempre quis. Eu temo que ela um dia não apareça; medo de um dia querer. Quero antecipar-lhe a decisão. Talvez não me marterize tanto, penso eu. O facto é que a encontro nas esquinas, nas dobras da casa, encruzilhadas, pelas fotografias preto e branco , pelo seu odor a cores, sem perfume, na roupa espalhada pelo chão que se solta em tábuas. Percorres as poucas divisões; entalada por corredores exíguos e tortuosos. A casa és tu.
Hoje coleccionei mais uma aproximação do que és para mim. Dás-me coragem; no entanto, distancio-me. Detive-me diante do café central e ousei entrar, sentar-me e sonhar uma vida.
Hoje até comprei o jornal do dia, pedi o melhor pão e o café afinal era tão ou mais delicioso do que era falado por aí. Olhar aquele grão bruto e castanho que enfeitava a frente da prateleira superior era um luxo. "Cafés do mundo", dizia. O central era uma sala esplendorosa no centro da cidade onde poucos entravam, nem percebi que era olhado de lado e com desprezo, apenas entrei. Não cheguei a diferenciar-me. Ninguém naquele dia poria-me fora dali. Eu podia ser pobre, podia até estar longe da aparência necessária mas, ali, eu fui sublime. Por momentos quis acreditar que era um frequentador assíduo, não só não o era, como seria o último em que entrava assim com tanta destreza.
Isto porque quero ver-me livre das memórias que me angustiam, estes carimbos de vida que me percorrem a visão por dentro e que eu não preciso. A devassidão que impregna a minha vida prometia acabar. O meu corpo desistirá à próxima tentativa de libertinagem. A dor física sobrepõe-se à outra, sem pena. Não posso submeter-me a tal vexame. Ela que dirá?
Diluído a um rabisco de exemplo, por não ter dado a mínima luta a esta sociedade destrutiva, resolvi deixá-las sob
um vermelho intenso e distorcido da estação de combóios a oriente, na fila dos não lembrados. Parto sem bela nem casco. Vou, mais uma vez, por dentro de memórias vastas.
E eu a tentar rasurá-las por fora.

Escrito e publicado por mim no dia 29 de maio de 2006

sexta-feira, agosto 29, 2008

quinta-feira, agosto 28, 2008

Um lugar especial...

Ontem descobri, procurei, o que for, um espaço muito divertido por aí, algures. Arrisco-me a dizer que terá sido um dos mais criativos que encontrei até hoje. Bem também não sou muito de andar sempre a procurar coisas novas, novos blogs, novos sites, etc... Mas de vez em quando procuro autores que me façam "clic" e lá vou eu à procura de uma origem, um rasto...
A facilidade que é encontrar tudo sobre alguém, actualmente, é tremenda e um pouco assustadora também, confesso, acha-se tudo à primeira! - Como é que se chama aquela moça dos livros e ilustrações giras? uhm...deixa cá ver... uhm..ah, cá está! Rebecca Dautremer! Isto mesmo..deixa cá ver se ela tem um site...Puft...à primeira! Cá está... www.rebeccadautremer.com .
Não há dúvida que o talento é imenso que os desenhos são mais que expressivos, e que as cores dão encanto e tacto às histórias. São no fundo histórias para crianças com desenhos de encantar qualquer pessoa, qualquer idade. A primeira vez que vi estes desenhos fiz questão de os trazer para casa e decidi dar a alguém muito especial. Foi paixão à primeira vista, ao primeiro virar de página, o livro era de facto muito bom! Com o passar do tempo surgiram novos livros editados pela Editora Educação Nacional e, também , com o passar do tempo, vou descobrindo coisas novas em cada desenho, em cada pormenor; Os detalhes são tantos mas tão bem distribuídos e cada um com muito significado e intenção, que nada parecer ter sido ao acaso. A técnica destes desenhos é única e também ela especial, na verdade não sei se saberei identificar todos os media utilizados...
Reconheço os lápis de aguarela, os lápis à prova de água, o lápis grafite, a lapiseira, etc...
No fundo não interessa muito saber o que o compõe, mas sim, apenas vê-los e senti-los...

Ontem comprei um dos livros publicados em Portugal: Nasredin.

No site da Editora escreveu-se:

Nasredin de Odile Weulersse, Rébecca Dautremer (ilustrador) foi eleito um dos melhores de 2007 pela Casa da Leitura 2007.

Versão árabe da narrativa tradicional portuguesa “O Velho, o Rapaz e o Burro”, Nasredin destaca-se, para além da revisitação do universo oriental, com os seus costumes, as suas paisagens e as particularidades da sua cultura, pela excepcional qualidade das suas ilustrações que, de forma muito clara e particularmente poética e afectiva, recriam o universo cultural que suporta a intriga, para além dos laços afectivos existentes entre os protagonistas. Com recurso a uma técnica muito apurada, a ilustradora recria com cor local e com marcas de exotismo um cenário cheio de referências espaciais, com especial atenção para o tratamento de elementos como a luz e a sombra, os reflexos e espelhamentos, sugestões de movimento, noções de perspectiva, entre outros. Para ler e reler, para observar e saborear, este livro é a prova de que as tradições não são exclusivas de países, culturas ou línguas e que unem civilizações

na parte posterior do Livro lê-se:

Nasredin tem um problema:
Faça o que fizer, as pessoas riem-se dele.
A quem deve dar ouvidos?
Ao grão-vizir? Às lavadeiras?
Ao grupo de anciãos? Às crianças da aldeia?
A menos que seja ao meu pai, o sábio Mustafá...

sábado, agosto 23, 2008

Milan Kundera

Há muitos escritores importantes e que me ajudaram sempre quando precisei, há uns mais metódicos, uns mais simples, há os que são sábios. Não gosto de escritores complicados, gosto sim dos escritores que pensam e digam em tão poucas linhas coisas difíceis de escrever mas fáceis de entender. O Kundera tem esta faceta de nos encantar com frases muito simples, em histórias cheias de profundidade.
Acho que me falta ler um ou outro livro, mas o que sinto é que a cada momento posso encontrar parágrafos eternos, ou, simplesmente, frases memoráveis.
No meio da "Imortalidade" descobri: " Solidão é a doce ausência de olhares".

desenhos pequeninos...

segunda-feira, agosto 11, 2008

sábado, agosto 09, 2008

Menino de areia

Ontem fui falar ao menino de areia. Ontem, no desequilíbrio do sol, o fim da tarde, usei a vestimenta que não é usual e quis vestir-me de sol e de areia, quis fazer aquilo que ainda não tinha feito este ano, quis esperar e aguardar-te, mas não foi possível...
Já te tinha visitado mas não te tinha tocado, nem falado contigo.
Debaixo de águas que não as de mar nem oceano fui falar com o menino que vive por dentro da areia, não de uma areia qualquer, aquela areia.
O menino não se apercebeu da minha chegada, sentiu-me incompleto e não me quis visitar. - És tu? Como podes ser tu se vens só? perguntou o menino de Areia na sua fala granulada. - Não sabia se estarias por aqui, não sabia se me abririas a porta mesmo só a metade de mim. Respondi eu de cara rebaixada e nó na fala. - Hoje o mar está arisco. Não te atrevas a entrar, sim? Conta as ondas e deixa-o acalmar... Sabes, o mar chega a todo o lado, toca-me mas também chega a outras praias. Eu conheço-o muito bem, e sei o porquê da sua força, mas o mar serena, vais ver... Disse o pequeno menino de pequenos grãos de areia. - Mas não foi isso que vim saber!...Menino de Areia? Menino? Estás aí?Assim que acabei estas palavras soltou-se um leve vento que trouxe um sombreado de areia rasteiro às dunas da praia. Era ele a responder sem eu ter perguntado alguma coisa. Era um exército de areia feito de mil milhões de grãos levantados que me cobriram. - Obrigado por me teres abraçado, menino de areia. Obrigado por estares sempre aqui. Disse, fechando os olhos ao vento. Debruçado sobre a areia, debruçado sobre ti, a minha sombra foi ficando maior, foi ficando gigante e eu pequenino. O sol desceu para me olhar nos olhos, o volume do mar cantou, as saudades trouxeram castelos de areia feitos por nós à beira de um menino atento aos barcos do mar, as velhas barcaças do Tejo, às cores dos nossos sonhos e aos sorriso de meninos que juntos embandeiramos ao vento sem querer.
Despedi-me e prometi voltar, estendi a palma da mão sobre ti, menino que tocas o mar, e desenhei sobre a memória do teu rosto, a forma do teu sorriso, o teu sabor. O sol abriu sombras e guardou esses sorrisos, disse-me adeus. Até amanhã sol...

terça-feira, agosto 05, 2008

"Coragem".

Sempre tive uma fobia, sempre achei que não fazia muito mal, passo a explicar. Desde pequenino que faço digestão para tudo mais um-par-de-botas, bem, mas hoje decidi ganhar coragem e enfrentar o fantasma. Esta leve "paranóia" tinha que acabar, já não fazia muito sentido, hoje decidi que era o dia.
Lanchei, a coisa não foi propriamente leve, mesmo segundo os meus padrões; passado algum tempo meti-me debaixo de água a uma temperatura razoável e enfrentei o papão de caras. Pimbas, já estava, agora nada a fazer. Nada! Não aconteceu verdadeiramente nada! Não houve uma mutação, uma transformação, má disposição...nada! Não fiquei nem azul, nem verde, nem de outra cor estranha. Não virei peixe nem monstro!
Há pessoas que acordam e escolhem fazer as 10 coisas mais estranhas que lhes passa pela cabeça.
Eu decidi acabar com uma coisa estranha, mas só para a minha cabeça claro está.
Não há nada como enfrentar os medos com a "coragem" de quem tem , de facto, medo.
um pequeno passo...que é sempre o maior.

p.s... Tendo em conta que tenho 27 anos, e a esta velocidade, quando tiver 90 anos ganho coragem e salto de um Avião (com pará-quedas óbvio, tenho esse medo mas também não sou parvo)

p.s...2 Bem, com 90 anos a minha memória também já não deve estar grande coisa...portanto ainda me esqueço de o pôr...ou então, segundo a minha teoria optimista, os meus defeitos melhoram com o emadurecimento, ao contrário do comum dos mortais...