quarta-feira, novembro 07, 2007

Hotel...

Bem, que filme! Fiquei rendido ao encanto deste filme e foi mesmo o melhor que vi este ano até agora. Bem eu sei que já não é novo...Andava à procura deste "rapaz" há já algum tempo, já esteve à venda com o expresso se não me falha a memória, já teve no VideoCentro como venda de filme usado mas bem mais acessível...enfim, já esteve em tantos sítios e eu nunca o tinha conseguido apanhar! Foi numa tarde recente que lá encontrei este filme e não resisti a agarrá-lo...primeiro era para ser uma oferta, mas depois não me consegui libertar dele. Mas esta história não acaba já... aqui o tonto, depois de conseguir comprar o filme 2 vezes mais caro que o suposto...(pormenores), andou a tentar vê-lo durante os dias seguintes mas sem sucesso, havia sempre algo que falhava. Então pu-lo debaixo do banco do meu carro e pensei: " Pelo menos aqui ele está seguro, e quando houver vontade venho buscá-lo e voilá! Tinham-me avisado que este filme era um murro no estômago e por isso precisava de uma altura certa...
A altura certa chegou quando olhei para a minha estante e percebi que me faltava ver um filme...
Foi então que , depois de ter andado com o filme durante dias a fio debaixo do meu banco, lá me recordei que o tinha lá deixado como uma espécie de Relíquia perdida!
-Ena! Pensei eu; tinha o dia salvo. Voltei ao carro e... lá estava ele! Aparentemente esquecido...

Gostei da riqueza do filme...nem parece que é de 2004, aliás, parece-me já um clássico! A cor, a imagem, as roupas! Está perfeito! Este filme é um hino à vida Humana, à partilha, à protecção, à grandeza de algumas pessoas que tem coragem na ultrapassagem das dificuldades. É um filme baseado numa história real e faz pensar além dos pensamentos habituais. Uma das linhas que mais me marcaram...

Paul Rusesabagina (Don Cheadle): I am glad that you have shot this footage and that the world will see it. It is the only way we have a chance that people might intervene.
Jack (Joaquin Phoenix): Yeah and if no one intervenes, is it still a good thing to show?
Paul Rusesabagina: How can they not intervene when they witness such atrocities?
Jack: I think if people see this footage they'll say, "oh my God that's horrible," and then go on eating their dinners.
(...)
Coronel Oliver( Nick Nolte): [explaining why the world will not intervene] You're black. You're not even a nigger. You're an African!

Não preciso de dizer mais...
P.s.: Tem uma Banda sonora muito boa e entranha-se...

Eis um filme que quero ver...

Sobrou-lhe um rapaz de Cartão

Depois de tanta coisa boa pelo meio, depois de tanto carinho, depois de textos sonhadores, depois de viagens e destinos, depois de gargalhadas e suspiros, depois de horas loucas em cinemas antigos, depois de músicas e sons, depois dos cheiros, depois de tantos comentários sinceros, depois de tanta vida, depois de tantas coisas esquecidas.... Agora sobrou-lhe um rapaz de Cartão.


Rascunho antigo
Segunda-feira, Julho 10, 2006

E se...

um dia pedi...

Um dia pedi uma máquina de escrever.
Esperei esperei mas ninguém compreendeu a minha vontade. Bem, acho que ninguém me levou à séria! :)
Acho que há presentes que não queres comprar, há presentes que queres que te ofereçam quase de surpresa. Há coisas simples e baratas que se podem dar, há um beijo e um abraço que custa tão pouco. Gostava de escrever cartas assim, gostava de carregar nos botões e ouvir o tal barulho. Gostava de ter uma máquina de escrever, mas gostava de uma que trabalhasse, não para servir como objecto decorativo! Não! o que gostava mesmo era uma máquina destas, como escrevi há uns longos meses, queria uma máquina de escrever mas há histórias que parecem ficar esquecidas.
Gosto de escrever de todas as formas e hoje tenho ideia que ate deitado e de barriga para o ar consigo, um pouco como o desenhar! Adoro desenhar! Sou feliz a desenhar! Alguém conhece um emprego onde se desenhe o dia todo? Aceito uma conversa e um café para quem quiser partilhar coisas de que se gosta muito! Irra lá estou eu...começo em no A e acabo no Z! :)
Mas assim é que tem piada! :)

terça-feira, novembro 06, 2007

Sentir...

Sentir é uma memória não acabada.

Sonhar...

Sonhar é ir buscar os nossos desejos sem um medo alternativo.
É ponderar as vozes diferentes que informam o teu corpo sensitivo, é não medir tanto a vida.
É talvez participar na solução antes de a termos perdido.
Mas também não os acho inconsequentes, não os acho perigosos, acho-os muito necessários para atribuirmos valor à nossa diferença, para insultarmos as nossas tristezas, para renovar a nossa janela mundo. Tecer o novo e não abrigar o antigo nos passeios de ruas calcetadas. As memórias servem os sonhos e não devem ser interrompidas. Digo eu que o sonho é isso porque há muito que não o faço...apenas preciso.

Brincar...

Hoje tive um dia muito inesperado e giro. A caminho da casa da minha irmã vejo uma velha lata no porta-bagagens muito suja mas não tomei muita atenção. Meti-me no carro e lá fui de encontro a uma grande paixão. De facto aquela miúda muito pequenina dá uma serenidade muito grande a qualquer um e eu até tenho precisado dela; hoje foi mesmo um dia santo. "ó tio...Estás triste? Mas tu és lindo pois és?" sorrisos, só sorrisos pelo meio e uma ternura muito grande que vem de uma criança de 2 anos e meio e uns tantos palmos que me abraça como uma pessoa crescida e acerta-me em cheio no meio do coração. De coração menos apertado o beijinho e a lambidela fizeram-me sorrir. Acho que todos nós deveríamos aprender estas coisas simples com as crianças, que não olham a pessoas, nem virtudes, nem a outras coisas que pouco interessam. Beijam e mimam de sorriso na cara como quem diz: "Anda Tio, agora só precisas dos meus sorrisos e gargalhadas saborosas e pões-te logo bom do que te dói!" Foi então que a surpresa aconteceu! O meu pai trouxe do carro a velha lata e abriu-a à nossa frente espalhando pelo chão velhos brinquedos! Os olhos desta menina brilharam tanto, talvez o mesmo quando tinha 5 anos e recebi estes brinquedos pelo Natal. Tinham-lhe trazido os meus legos arcaicos dos piratinhas e soldadinhos que brincava quando era minúsculo. O meu sorriso não poderia ser maior e para mim foi uma pequena retribuição aos gestos sucessivos de uma "Piratinha" de palmo e meio. Não dá como resistir ao seu encanto, é uma perdição esta menina.
Cada vez conversa mais e melhor, utiliza os tempos verbais quase na perfeição e ainda consegue ensinar-me bastantes coisas. É um pequeno Ser mas grande de coração. Brincámos muito, brinquei como um miúdo pequeno, brinquei como se tivesse sido a primeira vez com aquelas peçinhas todas. Lembrei-me logo logo das minhas brincadeiras e construí logo um carrinho mal consegui conjugar as peças necessárias. O que faz uma coisa tão simples como uma velha e suja lata despertar um mundo de fantasia, o que faz um gesto tão puro como um mimo de uma criança, o que fazemos nós sós neste mundo de intolerâncias tolas...

quinta-feira, novembro 01, 2007

Um dia disseram-me...

(...) Charme é a forma como sempre olhas para mim. Charme é o teu cheiro que fica comigo depois de termos estado juntos. Charme é o toque das nossas mãos. Charme é o teu sorriso que se abre e os olhos iluminam-se! Charme é a tua distracção, charme é quando procuras por mim!(...)

O menino amarrotado

Era uma vez a história de um menino muito reservado. Ele era calado mas nunca deixou de se pronunciar sobre os assuntos mais diversos, gostava bastante de jogos antigos e adorava observar o mundo,- "um olhar perdido"- diziam. Era apenas um olhar interessante e cativava amigos pelos cantos de toda a sua cidade, na sua velha escola; era um amigo de pequenas aventuras. Pequenas porque era esse o seu tamanho.
Esse menino não era apenas bonito, mas, por isso, enchia o desejo de todos os outros da nova escola, ele era calado e nunca se apercebera que aos poucos começavam a fazer pouco dele, pelas suas brincadeiras aparentemente absurdas e antigas; a novidade já não existia e repentinamente tornou-se desinteressante aos olhos de todos. Não queria ser notado, apenas... não esquecido! Ele às tantas denunciava um olhar amargurado e a sua tristeza enaltecia a sua sombra, havia dias que arrastava a sua mochila da escola e já nem ouvia o que os outros diziam: eram os outros, os parvos, os idiotas que apenas não brincavam as suas brincadeiras. Sentiu-se deslocado, perdido. No princípio as coisas eram uma coisa, depois, com o tempo, foram ficando muito adversas. Era um rapaz incompleto, ou melhor, era um rapaz diferente mas ninguém viu isso a tempo, já ninguém queria brincar com ele entretanto. Queriam os meninos-novidade. Às tantas houve uma menina que até lhe achava piada que lhe disse que brincava com ele porque achava que era "fixe" estar com ele...mas logo deixou de estar porque mais ninguém o fazia, lá está, esteve porque era recente e oportuno, porque parecia um escape aos antigos com quem tinha andado, porque parecia giro, mas era só isso, epidérmico quanto baste; ninguém lhe deu tempo para falar e aquela sua cara de menino bonito não mostrava mesmo a ninguém quem era. Os sorrisos apareciam-lhe escondidos, sorrir era a última coisa que lhe apetecia, o trajecto até casa era já feito sozinho; só, sempre só... Odiava aquela escola mas não tinha feito nada por isso, a novidade tornou-se numa tortura para ele, já não o era! Ele não percebia porquê a afinidade inicial e depois de ser novidade foi encaixotado como um velho brinquedo sem uso. Como um velho e lindo boneco de pano sem mais brincadeiras para oferecer. Porque é que se desiste assim? Porque é que se encosta uma pessoa desta forma tão seca, tão egoísta?
Porquê quando os "brinquedos antigos" são os melhores, têm histórias fantásticas para serem contadas, têm um legado familiar por vezes, têm sabedoria...tal e qual como lhe tinham ensinado? Mas estes meninos não davam valor a isso e mal deixou de ser um aluno recém-entrado foi esquecido e relativizado, as suas opiniões fantásticas valiam de tão pouco mal abrisse a boca, os seus brinquedos que eram bons no começo agora não prestavam para nada; ele, abismado, que a olhar para isto, para os seus brinquedos e para si, reparou que não podia ser amarrotado nem deixado como um brinquedo partido, não queria ser um menino bonito apenas, não tinha culpa de sê-lo, não queria nem por mais segundo que fosse. Queria ser mais, mas quem é que lhe prestava atenção? Todos os dias havia uma novidade e todos as outras crianças abraçavam-se a elas e esqueciam o rapaz ou o que quer que fosse que ali estivesse; esperava se fosse preciso por uma oportunidade, como se fosse ele a quem tivesse que ser dada uma; como se fosse ele o resto, a sobra. Sentindo-se um trapo, a sua confiança descarrilou em ruas inclinadas e também por elas percebeu que as pessoas valem mais. Foi numa rua inclinada que viu o seu rumo e por onde não queria seguir, queria ser um contador de histórias mas tudo o que tinha sido era pouco. Descobriu que existia ali só para ser mostrado, aos outros, -"vejam vejam como ele é bonito e pouco mais". Imagino o que não será descobrir que és parte de uma trama para satisfação de alguém, com um carácter quase meramente objectual. Que ascendes de situações mal-resolvidas e és aquilo que as pessoas querem que tu sejas, só para servir, para ser visto com..., ser mostrado como um troféu, uma nova conquista pronta para ser posta na montra dos amigos e da família. Imagina que foste escolhido por aparentares e para ser um descargo de consciência, uma substituição na hora certa: -" É mesmo "este" que queremos para mostrar no nosso círculo de amigos".
Imagina que tudo não terá passado de um grande mentira e só descobres quando te afeiçoaste demasiado. Imagina que te controlam por te terem tornado previsível e comum e agora podem se ver livres de ti, plenos de moralidade e falsa-compaixão. Imagina que acreditavas no primeiro olhar e te dizem que ele nunca existiu. Imagina que te puxam a vida por debaixo dos pés e tu queres desistir. Imagina que não representas aquilo que sempre te disseram e já não sabes em que parte acreditar. Imagina que nem por um um segundo gostaram de ti, apesar das aparências.Viram nele um campo de possibilidades e em nenhuma altura tinha sido pelo seu coração as suas opiniões e intenções. Ele não era um pedaço de aconchego dos desejos momentâneos dos outros, para depois já não servir, não queria ser essa coisa pálida e egoísta. O miúdo foi faltando à escola, começou a desinteressar-se de igual maneira, deixou de se preocupar porque a vida para ele atingia um limite: a sua auto-estima, o seu ser e a sua personalidade. Sentindo-se um trapo de menino decidiu abandonar as amizades, as paixões, as ilusões que lhe restavam. O que se pensa quando se está a mais? O que se faz? Agarrou-se aos seus velhos bonecos de pano, abraçou-os como antigamente e parou de chorar, fartou-se de já não prestar, de já não ser útil, de já não ser Ele. Afastou-se para sempre da superficialidade das relações e mais tarde conheceu a rapariga com quem viria a viver. Para sempre.