Os ruídos que há pouco perpassavam os seus ouvidos misturam-se agora num doce e saudoso silêncio. A sala está vazia e promete continuar, não fora aquela uma reposição mal engendrada pelo promotor que teimava em flop´s sucessivos de quarta-feira à tarde! Porém este é um dia de mágoa e pensar no filme é tudo o que P. menos desejava...
Sentido o pequeno tremor fincou os olhos para dentro da história de si mesmo e filmou. A máquina que levava era Checoslovaca, comprada em Brno nos anos 50, e produzia um matraquear estranho ao funcionar- o som do cinema afasta-se- o local estava pouco desenhado e nada o levava a crer que tinha um nome próprio, era suave e familiar, mas só isso; não era o bastante para se deixar ficar.
P. percorreu a lente e o espaço, e às tantas deixou-se levar pela certeza que o espaço premeável que passeava era apaziguador e por isso muito intrigante. Nada nem sítio algum poria P. naquele estado de levitação, de ansiedade e sonho. A pulsação resistiu umas poucas vezes mais e nesse instante a mão e o nome que encerravam a resposta pareciam mais óbvias na trepidação da mão esquerda. Tocou-o ao ter ido ver um filme odioso e nada memorável. Não lhe pediu mas estava efectivamente lá. No fim levantaram-se e encaminharam-se para sítios diferentes, levaram vidas contrárias e as cidades já têm outros nomes. A cúmplice sala que permanecia foi hoje demolida.
terça-feira, janeiro 30, 2007
domingo, janeiro 14, 2007
A história do rapaz com um olhar desarrumado
Naquela escola secundária as aulas eram enfadonhas e pouco interessantes, havia porém alguém que me fazia pensar. Que Ser mais egoísta e calado dizia eu. As primeiras impressões não foram de facto as melhores, eram más mesmo. Era um personagem autêntico que ali andava, correspondia aos mínimos apenas por vontade da sua natureza aparentemente intuitiva. Era subtil nas suas afirmações, e por dentro eu juro que ele gritava convictamente. Era um rapaz diferente, notava-se até nas suas longas e demoradas passadas, remetia-se em ondas de frequência distintas, agora que penso era um rapaz sedutor, à sua maneira claro, as coisas que ele dizia quando falava eram certeiras e todos nós ficávamos pasmados com aquela alma tão sossegada, porém complexa e singular. Começei dia sobre dia a aperceber-me das diferenças que o afastava dos outros. O olhar era cirurgico. tão apurado que ele era capaz de desenhar horas a fio sem levantar a caneta do papel, com uma simples linha fazia o contorno dos mais incríveis objectos. Aquilo só por si constituía um exercício pleno de observação e detalhe como poucos naquela idade o fariam. Mais ainda, melhor que muitos dos que frequentavam artes quatro anos mais velhos. Era impressionante a facilidade, o rigor, a profundidade; acrescentava cor e a única caneta que tinha era preta, absolutamente preta. Caneta de arquitecto como eu dizia na brincadeira...
Um dia o rapaz de olhares desarrumados percebeu que coleccionava canetas sem tinta, vazias , não as deitava fora por nada mesmo que inutilizadas; eram todas da mesma marca, o traço: único. As canetas permaneceram na sua vida como a tinta que nela restava. Aqueles restos de tinta eram úteis nos seus desenhos, nas suas reflexões sobre o habitar, no pormenor e no devaneio.
Pensámos num fim para aquele rapaz quando ele estava no ínicio; Li hoje no jornal da manhã que tinha partido, estou triste; os documentários da sua vida e obra ocupavam a tv na dois, mas eu tinha o princípio da sua "loucura" e foi de facto qualquer coisa...
No fim guardei o choro e sorri.
Um dia o rapaz de olhares desarrumados percebeu que coleccionava canetas sem tinta, vazias , não as deitava fora por nada mesmo que inutilizadas; eram todas da mesma marca, o traço: único. As canetas permaneceram na sua vida como a tinta que nela restava. Aqueles restos de tinta eram úteis nos seus desenhos, nas suas reflexões sobre o habitar, no pormenor e no devaneio.
Pensámos num fim para aquele rapaz quando ele estava no ínicio; Li hoje no jornal da manhã que tinha partido, estou triste; os documentários da sua vida e obra ocupavam a tv na dois, mas eu tinha o princípio da sua "loucura" e foi de facto qualquer coisa...
No fim guardei o choro e sorri.
sexta-feira, janeiro 12, 2007
terça-feira, janeiro 02, 2007
Casas itenerantes
Sopraste por dentro da janela quando me viste,
soprámos os dois por janelas limpas.
Abriram-nos uma em que distávamos,
tão pouco.
Ela abriu quando as ferragens endureciam a vontade,
a janela.
As casas são andantes, assimilam viagens
conduzem-se
plenas de fugosidade, plenas de adeus.
são constantes
São viagens entre vidros e portadas.
Janelas apostas.
Sobre as dobras e as esquinas,
Apólogos soprados rejeitam-se, são assuntos reclusos.
Apressa-se a perversão.
Respondes com os vincos e as pontas.
Esqueces-te do resto.
Eu lembro restos:
subtis omissões,
intermitentes,
que também sou.
Sobra pensada, sem olhos que me persigam sem pedir.
Resta dizer que não prossigo errante.
Sobre a casa de janelas frágeis, que se quebram e amontoam,
voláteis.
Sobre o ínicio da fraqueza;
Prefiro fechar-me,
onde insistes perder-te.
soprámos os dois por janelas limpas.
Abriram-nos uma em que distávamos,
tão pouco.
Ela abriu quando as ferragens endureciam a vontade,
a janela.
As casas são andantes, assimilam viagens
conduzem-se
plenas de fugosidade, plenas de adeus.
são constantes
São viagens entre vidros e portadas.
Janelas apostas.
Sobre as dobras e as esquinas,
Apólogos soprados rejeitam-se, são assuntos reclusos.
Apressa-se a perversão.
Respondes com os vincos e as pontas.
Esqueces-te do resto.
Eu lembro restos:
subtis omissões,
intermitentes,
que também sou.
Sobra pensada, sem olhos que me persigam sem pedir.
Resta dizer que não prossigo errante.
Sobre a casa de janelas frágeis, que se quebram e amontoam,
voláteis.
Sobre o ínicio da fraqueza;
Prefiro fechar-me,
onde insistes perder-te.
sexta-feira, dezembro 29, 2006
...
"Chegaste sem que eu desse conta. Talvez tenhas tocado à campainha mas hoje vejo que estava distraída com algo. Provavelmente absorta no meu mundo.
Foste entrando, quiseste correr o risco de abrir a porta e, deixar-te deambular por divisões que julgavas conhecer; para ti não era a primeira vez que pisavas aquele chão, conhecias os cantos à casa como se fossem teus. A cada passo invadias-me, possuías-me e eu mal me dava conta. Julgava-me segura até a casa começar a ruir... Quando saíste e, não fechaste a porta, apercebi-me da tua passagem... Deixaste a porta entreaberta, o frio começou a entrar e a tua ausência a fazer-se sentir.
Enquanto permaneceste não dei por ti... Devias ter fechado a porta! Foste o mais sublime, o que apelidei de "o mais sublime dos cabrões" e, a culpa foi minha... tudo porque não mandei arranjar a campainha!
Da próxima peço que toques, que batas freneticamente à porta e, que no hiato de eu chegar, pé ante pé à porta, não desistas...que me oiças perguntar do outro lado – quem é... ouvir-te responder e, sussurrar-te em seguida enquanto olho ao relógio...demoraste tempo demais na tua não linearidade! Perdeste-te no tempo. No teu. E desencontraste-te do meu.
Neste hiato, entre quartos e pátios da minha casa, tocaste-me e eu perdi-te o toque, o teu cheiro, desencontrei-me do teu olhar, de ti, entre corredores labirínticos. Perdi-me de mim e encontrei-me no vazio da sala sob o horizonte.
Encontro-me agora de pé, não à tua espera mas à minha. À espera do retorno a mim mesma enquanto a luz teima em fugir para dar lugar à escuridão.
Amanheceu e eu não dei conta. Dou por mim em pé, ainda na sala a olhar o horizonte e, pergunto-me...estás aí?"
Quando um presente é paixão.
Todos recebemos presentes no Natal, bem este "todos" não pretende ser global mesmo...enfim...à parte de realidades, e todos adoramos abri-los, rasgar papel tem um efeito perverso porque aquilo de facto sabe bem! ...desculpem-me os verdes.
Porém este natal recebi o que não estava à espera. Recebi paixão pelo natal.
Como é que se dá isso a alguém? Como é que se embrulha? enfim...FAQs que vocês colocam e sobre as quais eu não vou responder...
A verdade é que aconteceu e é daqueles que são bons para sonhar, relembrar...enfim...tudo a sós.
Bem, se for com o "pai natal" daquela prenda... ( ok isto está a ficar descontrolado...)
A verdade é que ainda é possível que haja um Natal original...
Como diz a sabedoria urbana: Este natal já queimou, siga para a passagem do ano!
Agora esmerem-se...
Porém este natal recebi o que não estava à espera. Recebi paixão pelo natal.
Como é que se dá isso a alguém? Como é que se embrulha? enfim...FAQs que vocês colocam e sobre as quais eu não vou responder...
A verdade é que aconteceu e é daqueles que são bons para sonhar, relembrar...enfim...tudo a sós.
Bem, se for com o "pai natal" daquela prenda... ( ok isto está a ficar descontrolado...)
A verdade é que ainda é possível que haja um Natal original...
Como diz a sabedoria urbana: Este natal já queimou, siga para a passagem do ano!
Agora esmerem-se...
quinta-feira, dezembro 28, 2006
Vincos sobre o que não se esquece
Dos dias passados contamos histórias por dentro, sobre as quais tememos partilhar ou contar, contamo-nos isto e aquilo, e desenhamos imagens rarefeitas mas tão cheias de presença, tão singulares que nos fazem rir, sorrir, ou então emoções pendentes, rastejantes, penosas mesmo; choramos largas lágrimas de tristeza, de perdão e choramos o não acontecido, por dentro dessas histórias que podem ser de lenta dissecação, que leva tempo sobre os pensamentos mais vulgares. Exactamente por imaginarmos, por termos essa inresponsabilidade quase diária de invocar sentimentos teimosos, persistentes que nos dobram, vincam, magoam, é que lembramos dessa impossível subtileza não utilizada a que se chama memória totalmente apagada. Quantos de nós ousam esquecer alguém ou um lugar associado sem pensar que não se vai esquecer assim, refém de uma vontade momentânea. Quantas tentativas de imagens apagadas relembram outras? Sequências inteiras que me diziam: volta. Teço à minha volta fibras de esquecimento mas a minha coragem insiste nos berros que me dás por dentro e elas desistem logo ali, esfarelam-se.
Solto-me? Aquela viagem que me fez parar no centro da europa resume-se a pouco. Tu foste-te de vez sobre passos largos depois da linha de fronteira...subsiste, prevalece o sentimento sobre a imagem, e depois novamente aquela triste imagem que nos surge logo mais uma vez; recorrente- assim de tempos em tempos. Nunca serás um país esquecido, tens a impossibilidade e a minha vontade como prova irrefutável.
Solto-me? Aquela viagem que me fez parar no centro da europa resume-se a pouco. Tu foste-te de vez sobre passos largos depois da linha de fronteira...subsiste, prevalece o sentimento sobre a imagem, e depois novamente aquela triste imagem que nos surge logo mais uma vez; recorrente- assim de tempos em tempos. Nunca serás um país esquecido, tens a impossibilidade e a minha vontade como prova irrefutável.
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