segunda-feira, setembro 29, 2008

borboletário ao fim...

O Borboletário de Lisboa no Museu das ciências está a passar uma fase complicada. Li há pouco tempo que estão a precisar de ajuda porque não têm como pôr o projecto a funcionar novamente. Precisam sempre de dois biólogos residentes mas não têm uma estrutura de apoio capaz, gerando alguma incerteza no futuro. Eu ainda não sei bem como poderei ajudar, foi uma das visitas que gostava de ter feito e fico com muita pena que exposições como esta se percam assim!
Existe um esforço enorme que merece ser acompanhado e reflectido. Aceitam-se voluntários também.

domingo, setembro 28, 2008

Uma aventura num casamento...

Bienne, por onde hei-de começar? Hum...curioso, pensava que este casamento ía ser uma coisa e acabou por ser outra completamente diferente! Ontem casou-se um dos meus melhores amigos, já foi o melhor amigo destacado, mas acontecimentos recentes levaram-no para 1º lugar mas em ex aequo! lol... Pouco importa, são todos bons amigos e isso é que conta! O casamento ía ser em Vila do conde...então lá fomos nós, os três estarolas, os três mosqueteiros, o trio Odemira...nós!
Custa perceber como é que pessoas com personalidades tão diferentes conseguem manter-se amigos durante anos a fio! Mas a fórmula resulta e cá nos mantemos unidos. Na sexta começou a combinação às tantas da noite feita por sms. A mensagem era simples, ter a casa do N. às 10:00 da manhã para irmos comprar o presente. Contentinhos e de presente na mão lá mandámos embrulhar algo e eis que o N. sugere que o presente devia ficar com a pega de fora e o papel a contornar. Asneira! pois, a asneira foi tal que o embrulho não durou a primeira "pegadela".
Lá nos desviámos para casa de cada um para nos pormos bonitos...ou tentar pelo menos!
Combinámos ao meio-dia..depois ao meio-dia e meio e depois ainda às 13:00...claro, chegámos todos atrasados e partimos eram 13.45!!! Segunda asneira...
A viagem correu relativamente bem, falámos de muitas coisas interessantes, desinteressantes, sobre o vazio também... ( eu meti propositadamente a colherada porque até há bem pouco tempo falaram-me de povos na Tunísia que conseguem manter uma conversa muito bem articulada sobre coisas aparentemente vagas e universais mas que nós, Ocidentais, já não pensamos...)
Muito bem, a conversa pegou e gerou um debate interessante sobre decorrências do tema...uuu
Spooky. Assim passaram-se Km, a ouvir músicas calmas, e outras bem menos, tudo pelo Dj M.
Com o N. ao volante chegámos a um ponto em que o carro começou a tremer por tudo o que era sítio. Parecíamos que estávamos dentro de uma máquina de lavar da Hoover das antigas que até saíam do lugar com tanto abanar!depois de algum chocalhar lá começámos a inventariar problemas. Bem, a primeira tentativa foi acusar o sr. que tinha feito a revisão e logo dissemos foi o turbo que ele andou a remendar!! Com tanta conversa, fizémos mais um Km... depois lembrámo-nos e pusemos o M. de cabeça de fora a 80 km/h para ver se era um furo numa roda...Bingo, era isso mesmo. A roda já andava torta. Mas mesmo assim fomos levando o carro devagarinho devagarinho, o N. insistiu que não parássemos e eu e o M. a dizer: Pára! Claro o inevitável aconteceu...FUMO!!! roda estava a queimar e deitava fumo e um cheiro a queimado. Ok. era hora de trocar o pneu! Fomos em busca da chave eespecial, mudámos os nosso lindos fatos por roupa de fim-de-semana e nada! Não conseguíamos tirar o Pneu nem por nada! Decidimos entrar no carro e ir até à próxima paragem de serviço que estava a poucos kms... Tínhamos passado a indicação dos 10 km uns minutos atrás..Não podia estar muito longe!!
mas a 50 km/h na auto estrada tudo fica longe! E com um pneu a fumegar intensamente e a largar um cheiro pestilento a borracha queimada indescritível não me parecia irmos muito longe...
Mas lá conseguimos...devagar como uma lesma mas lá achámos o caminho... parados, levantámos o carro novamente e tentámos, entretanto chamámos um carro da brisa para nos ajudar! Bem... Faltava 1 hora para o casamento começar já com a perspectiva do atraso normal... tudo parecia perdido. Pior, quando tirámos a roda, vimos que o amortecedor tinha desaparecido! desfez-se!!
UAU...andar com um pneu furado é mesmo má ideia e por pouco não nos aconteceu algo realmente estúpido e mau. Trocou-se o pneu e seguimos viagem..devagarinho, não tínhamos suspensão traseira, era como uma carroça do Faroeste! Mas sem cowboys ou dinheiro, o que nos tornaria numa diligência! Nada...Tudo a 0´s! Lá prosseguimos devagarinho e de repente as conversas sobre o Universo desapareceram e passámos a coisas tão básicas como: - chegamos ou não chegamos?- N. Tu é que tiveste a culpa! quiseste continuar. -Nós avisámos-te!! Tudo bons amigos a culpá-lo por tudo! eu avisei que éramos totalmente diferentes...
Depois de alguma discussão, e de irmos a 80km/h lá nos concentrámos por fazer uma boa média! Mas sem estragar a suspensão que já não existia! Mas tudo se compôs...conseguimos recuperar, sobretudo porque o casamento anterior se tinha atrasado uma hora!! Entrámos na Igreja como uns gloriosos ajudados pelo sr da Brisa ao qual ficamos eternamente agradecidos!
Mas a coisa ainda não tinha asneirado por completo...Há sempre mais surpresas...
Era suposto eu ler no missal, parte do Ofertório, eu supostamente levaria o Pão. Mas eu não tinha Pão! O atraso e probabilidade de não irmos ao casamento fez com que o que eu ía ler mudasse para a rapariga que me sucedia. Ou seja: ela lia duas vezes, a minha parte e a dela...
Quando chegou a altura eu não tinha nem pão nem juízo, mas segui em frente e enfrentei o Toiro, e coisa lá correu bem. Mas todos se riram, houve quem não desse conta, porque com tanta troca e baldroca consegui baralhar o esquema montado e o ofertório transformou-se no ponto máximo de desorganização do casamento! Bem o microfone estava à minha altura, como eram todas raparigas que me sucediam, elas não se fizeram ouvir...segunda barraca. Mas conta quem ouviu que a minha intervenção tinha corrido muito bem, que nunca tinham ouvido um arquitonto discursar assim. Fiquei honrado mas admito que tenha sido por manifesta solidariedade ao meu momento de desestabilização da missa. Mas que se riram, ah isso foi certinho!! Um número que não cobrei aos noivos...

Ah, depois foi o melhor... Fomos para um Hotel muito interessante onde se fez a continuação da festa, e onde iríamos ficar, supostamente, a dormir...
As conversas mantiveram-se, ficámos numa mesa onde se fez de tudo um pouco, como tirar o N. fora de si..o normal portanto. Bebeu-se mutio, contaram-se muitas histórias. Muitas delas de ficar agarrado à barriga a rir. Tramámos o Sr noivo...perdão, o sr casado já! E contámos os podres todos, nós, amigos, somos sempre uma fonte inesgotável de tragédias! A do fato de treino encarnado e a carapaça laranja foi o ex libris... só para quem sabe.
Depois o momento crucial! A dança do Ritual das formigas africanas pelo M. !!!
Quem viu o filme "can´t buy me love" dos anos 80 sabe do que falo...é talvez dos filmes teenagers mais emblemáticos da época. Não foi uma réplica, mas no conjunto aproximou-seaquela dança...muito selectiva e cheia de ritmo! Claro que incluiu a dança do "Fame" quando se ouviu " fame..i want to live forever...i wanna learn how to fly..Fame..." neste momento a pista ficou sem ninguém e o M. agigantou-se e lançou-se sem medos para cima da pista a dançar como no genérico da série Fame!!! Foi o momento alto da noite e de chorar a rir!! Os gestos eram iguais, e os vôos, apesar de mais curtos e pouco trabalhados, a barriga não perdoa, estavam lá. Genial... Dançou-se o mais que se pôde no fim...e ficaram os resistentes, não muitos, mas os suficientes para fazerem a festa até ao FIM, os clássicos todos foram dançados numa paródia incrível e foi sem dúvida um casamento para a desgraça! Carlos Paião, Doce, o típico...

O cansaço depois chegou e cada um remeteu-se ao silêncio dos seus quartos depois da palhaçada.

No outro dia acordámos e fomos passear por Leça da Palmeira, fomos ver a casa de chá do Siza. é muito bonita e confesso que nunca tinha lá ido! Ups... ai ai... é imperdoável esta mas tudo tem o seu tempo. Todos somos corrigíveis, é preciso é saber o que falta... saber o que nos falta.

Viemos a passo de caracol para Lisboa porque o carro ainda não estava bom, viemos a cantar músicas de desenhos animados e o, o clássico, Tom Sawyer completíssimo cantado por M., na perfeição. Trautear a música do Indiana Jones sem falhar um tom... as Músicas dos Gun´s and Roses de forma perfeita...sem erros. Percorremos bandas sonoras de filmes, a música do Top Gun, do West Side Story, etc...tudo muito completo e heterogénio. Cheio de emoções e todos ao rubro a cantar! A música do James Bond também correu particularmente bem...Não faltaram os clássicos destas cantorias, os desafinanços quando tinha que ser e a boa disposição ao longo da viagem... Engraçado, o reportório musical do M. é excelente não fosse ele ter uma excelente capacidade auditiva!

mas o melhor foram as conversas e as piruetas em vôo do M. Inesquecível..mais que não seja porque está tudo FILMADO!

o fígado e os nosso pulmões ficaram em Vila do conde...mandam-nos por correio para a semana.
Hoje parecíamos todos o Bryan Adams a Cantar...eheheh tal não foi a palhaçada.

Amizade e o Amor na mesma folha de papel.

Não falo mais. No outro dia ía pondo alguem a chorar com o que disse... estava inspirado

sábado, setembro 27, 2008

Um dia feliz para alguém muito especial...

Hoje parto para Norte. Sim, hoje é para cima, vou para estar na celebração de uma grande festa, o primeiro casamento de um amigo é para ser celebrado de arromba com tudo a que tem direito, tudo legal, claro! Hoje parto para junto dos meus amigos, os antigos, bons amigos, sempre serão...

sexta-feira, setembro 26, 2008

Coisas de jornal...

Os dias começam cedo por aqui, hoje arrumei tudo e estava a pé, pronto para sair de casa às 8:00 da manhã, costumo pegar e ler o jornal com o sol pela frente, dar o bom dia ao corpo e à mente, neste sossego passo muitas vezes por uma esplanada, esta ou aquela, que me recebem sempre bem, uma com mais sol outra com menos, é certo, mas as duas disponíveis. A que mais gosto abre mais tarde mas oferece uma vista esplendorosa, uma vista de perder o olhar, de ver os sítios onde já estive, os lugares que sorri e entristeci, onde se vê fachadas e cunhais, a sombra e o vibrante.
É por estes dias que sumo cedo, leio o jornal comprado quase sempre no mesmo sítio e sento-me na percepção da expansão, no lugar dos sonhadores. Hoje li um jornal cheio de notícias amenas, como ontem, como sempre, acho que só leio as coisas boas, as outras dispenso, não quero, seleciono a vista do meu olhar, a do jornal, das páginas e artigos, como também seleciono a vista sobre a qual acordo. Que nem sempre é a mesma, hoje aqui, amanhã num outro lugar, são as minhas voltas, são as minhas certezas, estou certo que sei que amanhã posso já não estar aqui. No horizonte paira uma incerteza mas na minha vida as páginas não param.

quarta-feira, setembro 24, 2008

Rumo ao Sul...

Nem a propósito. Durante estes dias peguei num livro emprestado pela minha tia do Miguel Sousa Tavares chamado ´SUL viagens´. O livro não podia começar melhor, com um poema da sua mãe, Sophia...

O livro contempla várias viagens feitas a Sul. Curioso, parece que quando queremos evadir caminhamos para sul, de encontro com o sol, de encontro com uma paz interior que se reflecte nas paisagens sulistas apenas. Cheira-me que estava mesmo a precisar deste livro e uma viagem também não era mal pensado! Confesso, não são sou um fã incondicional do Miguel Sousa Tavares, sobretudo pelas suas intervenções demasiado caseiras, mas pouco importa porque na verdade este livro trouxe muita surpresa e entusiasmou-me, só por isso, e já é bastante, tendo em conta a conjuntura de emoções ultimamente, vale muito! De todas as viagens houve umas quantas que pisquei o olho, a viagem a Granada e a visita ao Alhambra é uma das tais, que aqui é descrita em poucas páginas mas pouco importa, é uma viagem a fazer.
De outros locais adorei a viagem ao Sahara, que é apresentado como um diário de bordo, durante quase um mês, metidos por dunas de areia, estradas escavacadas, pó e cascalho, a comer latas de conserva e pouco mais (aqui as criações gastronómicas são divinais e de rir bastante). Só podia ser a última história porque é tão bem contada, e é bem contada porque não tem tretas, é o que é, sem pretensões, preconceitos literários, nada disso faria sentido também num diário de bordo, pois claro. As histórias do jipe UMM são de ler e reler, e muitas devem ter ficado por contar. Era uma das coisas que adorava fazer, pegar num jipe (ok, ter um jipe é fundamental, não tenho)
e alguns amigos, alguns têm mesmo que ser pegados porque de outra forma não funciona, tenho amigos demasiado racionais para tanta maluqueira, assim não dá. Bússola, isso, mas para mim não chega, tem que ser GPS com aviso sonoro e alguém que saiba mexer com o brinquedo que não eu, para não avariar na partida, mas assim também não chega, tenho que levar mapas cartografados como é descrito e aconselhado no livro! Sim, há um episódio fantástico em que um casal recém-casado nórdico anda a "passear" no meio de África a querer ir para sul mas a andar ao contrário, completamente perdidos, como um mapa da michelin...o amor é lindo, mas...tem limites! Pronto, pronto, eu percebo-vos, nórdicos malucos.
Outra história interessante remete-me para uma imagem do "Paciente Inglês", do Anthony Minghella com a sedutora e charmosa Juliette Binoche, em que o jipe do MST não sabe se está no trilho certo em que toda a caravana composta por 15 carros se perdem uns dos outros por completo, e ao cair da noite, percebem que estão perdidos e que vão ter que esperar no carro por ajuda. A história é singularmente interessante por ser verídica, aquele sentimento de estar perdido mas sem ter medo, com o céu como tecto, onde passam cometas e satélites, onde o crepúsculo não existe, deve ser arrasador de aventureiro que é, e no fim, passadas umas horas, lançar o sinal luminoso no céu vazio, um flare encarnado que perfura os céus a km de distância, na esperança que alguém o veja . Uau, passar assim uma noite no meio do deserto com uma boa companhia, a tal, deve ficar na memória e no baú das paixões de qualquer pessoa para sempre!
Mas no caso do Miguel Sousa Tavares a companhia não devia ser lá grande coisa, acho que era um co-piloto...
Acho que é preciso coragem para fazer uma reportagem assim, agarrar deixar a família, mulher e filhos para trás, e meter-se num jipe com uma silhueta angulosa,o típico forte-e-feio, a caminho do deserto e sobretudo de uma grande aventura e espírito de camaradagem.
Há uma mensagem curiosa que o M. deixa...é que aqueles que aparentam ser uns valentões são os primeiros a quebrar e os que pareciam que não valiam nada afinal eram os mais resistentes e corajosos. O meu pai contou-me algo semelhante sobre a sua passagem pela Guerra Colonial em Angola, os valentões são os primeiros a dobrar nos primeiros sinais de perigo e os franzinos os primeiros a arregassar as mangas, porque medo, medo todos têm.

Ontem finalizei este livro que se lê descontraídamente e em pouco tempo, e curiosamente, amanhã parto para o sul. Parto para o Alentejo logo às 9.00 da manhã. Parto para o sossego, para a paz, e espero, para os sorrisos. Amanhã é dia de uma boa almoçarada, de bons costumes alentejanos, de bom pão e queijo ainda melhor, de um bom vinho tinto em cima da mesa, de pó nas calças, nos ténis, e sonhos nas mãos.
É tempo de continuar a sonhar...

Acabo como o Livro começa...

Deriva

Vi as águas os cabos vi as ilhas
E o longo biloiçar dos coqueirais
Vi lagunas azuis como safiras
Rápidas aves furtivos animais
Vi prodígios espantos maravilhas
Vi homens nus bailando nos areais
E ouvi o fundo som das suas falas
Que já nenhum de nós entendeu mais
Vi ferros e vi setas e vi lanças
Oiro também à flor das ondas finas
E o diverso fulgor de outros metais
Vi pérolas e conchas corais
Desertos fontes trémulas campinas
Vi o frescor das coisas naturais
Só do Preste João não vi sinais

As ordens que levava não cumpri
E assim contando tudo quanto vi
Não sei se tudo errei ou descobri

Sophia de Melo Breyer Andresen

segunda-feira, setembro 22, 2008

Lápis, muitos lápis...lápis lápis...

Deve ser o meu melhor amigo material desde sempre, desde pequenino. Dizem sempre que é difícil comprar uma coisa para mim, mas é fácil, dos melhores presentes que posso receber são lápis, não importa se são de cor ou não... Um dia trouxeram-me um lápis do MOMA e adorei simplesmente!
Brutal, aquela coisa veio de NY, UAU... Simples. Foi talvez das coisas mais simples que me deram.
Mas não foi a melhor. Essa não conto!
Hoje saí mais cedo, tive que fazer algo perto do Restelo, aproveitei e acorri logo para a beira do CCB, aquele sítio tranquiliza-me, o jardim do Império tem charme, carisma, e sim...espaço. Perfeito para namorar quando são tardes de trabalho e que mais ninguém está, perfeito para respirar o rio à distância, perfeito para ler. Mas sim, voltando ao início: Lápis! A minha paixão por lápis faz-me ver lojas de pintura e nada melhor do que ir espreitar a Arte Periférica...as duas lojas claro! Não se pode ver uma e não ver a outra! Sinceramente prefiro a Loja voltada para o interior do CCB, ainda que não tenha pó, é pena, nada como uma loja antiga cheia de pó onde há sempre tudo, mesmo que por detrás de uma estante, aquela que aparenta ser a mais antiga... Raios, já me estou a dispersar! (-típico- dizem vocês...). Ah, Lápis, isso, Caran D´ache!
Sim, Lápis que é lápis só pode mesmo ser Caran D´ache! Lembro-me perfeitamente de receber uma caixa que o meu primo mais velho me ofereceu, nos seus primeiros anos no Luxemburgo, tinha uns 18 lápis de cor Prismalo! A caixa era simplesmente mágica, tinha o segundo ponto mais alto da suiça, o Matterhorn, aquele pico que tem uma forma de pirâmide quadrangular e que o cume é torto como o bico de uma águia ( investiguei pelo Google Earth e lá o achei, fica na zona mais oeste da formação dos Alpes Suiços) . Nunca mais me esqueço, lembro-me perfeitamente de ouvir o meu pai dizer que só quando tivesse 10 anos é que podia abrir a caixa, até lá ficou simplesmente fechada, com os lápis todos alinhados pelos seus tons mais próximos, num acerto suiço, impecavelmente afiados. Quando me lembro desta história faz-me perceber porque dou valor a muita coisa hoje e que poucas pessoas dão, percebo que a espera é melhor do que a conquista, que é importante para sentir o "ter", manter o sentimento, fazer perdurar essa importância, percebo tudo isso, e por ter esperado pelo dia de poder abrir os lápis, usá-los, fez-me dar muito valor a estes pequenos objectos, perceber que qualquer coisa tem esse lado único e pode ser potenciada, que os pequenos gestos podem ser mais dramáticos e memoráveis que os grandes.
Saber que é preciso aprender a receber na altura certa, mas também aprender a dar sem ninguém perguntar, porque para manter um sentimento é preciso mais que muito, na maior parte das vezes, pequenos nadas. Aprendi a dar, aprendi a saber dar sim, mas nada se equilibra só por si, assim, como li há poucos minutos, é preciso aprender que tem que haver reciprocidade.
Com isto não acho que se espere sempre algo em troca, não assim, não é um preço, tem que ser mais do que isso, tem que ser sem pensar. Na verdade, aquilo que recebi foi uma lição, aprendi a não rasgar folhas quando as coisas me corriam mal, aprendi a usar sempre a mesma folha ao desenhar, e, mesmo que o desenho não corra bem, não se deve deitar fora, deve ser um desenho de busca, de procura, até achar a linha certa. Aprendi a não usar borracha, aprendi a riscar sobre o riscado, aprendia desenhar as linhas que queria com mais força sobre as outras, menos riscadas e tão mais desamparadas, aprendi que sobre uma mesma folha um desenho só pode correr bem, sem o deitar fora à mínima fragilidade, aprendi a ver então que se erra menos quando se começa a riscar muito o mesmo desenho, nessa procura, aprendi que se aprende mais se nos esforçarmos e não desistirmos porque sim apenas, porque o lápis não é o melhor do mundo, porque a luz não é a ideal, porque já não me apetece, porque estou cansado, porque a minha vida corre mal, porque estou triste, etc... Não, tudo isto está errado, as pessoas hoje desistem com a mesma facilidade com que entram nas coisas, já ninguém constrói, já ninguém "desenha" como antigamente, é mais fácil esquecer do que lembrar, recordar, é mais fácil desistir do que lutar, criar. É mais fácil de facto rasgar uma folha em que o desenho começou mal, porque não era isto que queríamos do que tentar fazer algo por ele, porque é o que faremos na próxima folha, e por aí adiante, perdendo a importância de cada uma, de cada desenho, de cada pensamento, de cada folha de papel. Para mim é fugir, é não solucionar, é enganar o desenho, pior, é enganarmo-nos. Não importa se temos tantas ideias e tantas folhas de papel se não conseguimos fazer um único desenho, finalizá-lo. Isso sim é difícil. Difícil é ter coragem e não desistir. Lutar é difícil, mas quem tem culpa é sempre o lápis ou a folha de papel, nunca nós, será? Difícil foi esperar pelos lápis e resistir à espera, difícil é manter o encanto, é o que já ninguém quer ou faz, difícil é não nos deixarmos iludir pelo cansaço do tempo. Não sei...cada vez que penso lembro-me da minha primeira caixa de lápis Caran d´ache e lembro-me o tempo que passou só a olhar para ela, à espera de um dia poder usá-la, essa espera aguçou-me uma memória que jamais esquecerei, a memória de que preservar é mais difícil que deitar fora, e por isso interessa-me mais esse sentimento, do que um outro mais perto de um laxismo latente, o chamado: "caguei e andei".
Hoje comprei alguns lápis aguareláveis, comprei-os avulso, escolhidos por mim, porque ligo a cada um deles, agora e sempre, e cada um há-de ter o seu uso, a sua ideia, o seus traços, mas nunca, nunca serão traços apagados.

O teu primeiro dia...

A minha pequenina M. está de cama. A minha pequenita M. está com Varicela e eu não posso ir visitá-la. Raios...nem isso posso fazer, apenas mandar um sorriso por telefone e ouvi-la no seu desembaraço contagiante. São alturas estranhas estas em que não posso fazer aquilo que quero, que não posso estar com quem quero, só tudo em parte, é tudo um preenchimento lento e selectivo,
de pausa e não de loucura.
A minha M. entrou esta semana para o seu novo colégio, de sorriso estampado, diz quem a viu, logo que entrou e tomou conta da sua nova casa, dos seus novos amigos, e espalhou o seu pequeno charme. Passaram quatro dias apenas para que alguém viesse ter contigo R. a dizer que a M. deveria passar para o ano seguinte sem mais esperas. Porque nota-se a diferença, a rapidez, a destreza, o desembaraço verbal, a riqueza do vocabulário, as brincadeiras, enfim... o que nós já sabíamos no fundo. Aquela miúda que queria ir para a escola dos crescidos afinal tinha razão...
Os seus desenhos expressivos e detalhados nada têm de bébé...
Afinal o teu primeiro dia foi especial...como sempre o são,

Um beijinhos meus para a minha M.

sexta-feira, setembro 19, 2008

Mamma mia...

De tempos em tempos lá consigo mover a minha irmã de casa. Andava há imenso tempo a tentar combinar algo, mas havia sempre qualquer coisa, isto e aquilo, a minha sobrinha...etc...
Eu entendo as razões mas as pessoas não podem deixar de sair. Depois de alguma luta lá consegui combinar uma ida ao cinema. Decidimos ir ver o Mamma mia quase em família, e resultado, foi muito divertido e todos adorámos o filme! A expectativa era boa mas o resultado foi ainda melhor!
A Maryl Streep é de facto uma grande actriz, uma das minhas preferidas a par com a Juliette Binoche que transmite um charme único, e aqui, neste filme, não só representa como canta! E que nada mal que ela se sai! Não são os ABBA mas também se o fossem deixavam na hora de ser actores! Bem, ou não, porque isto de ser actor naquele nível recebe-se muito mais! (a minha máxima -´o dinheiro não é tudo´ só se aplica mesmo a mim pois o que faço é sempre por paixão!)
Meter músicas, e letras e contextualizar tudo num enredo, criar uma história, é de facto genial, achei brilhante a ideia que já era importada do Musical com o mesmo nome... O que eu adorava ir vê-lo...Londres? Hum...era mais baratinho se passasse por Lx!! bem...ir a Londres também não era nada mal pensado! hihi
Enfim. Sorrisos na cara, e um serão bem passado! Isso sim... O filme é um fartote de rir...
E o Pierce Brosnan é o maior...a cantar é que a coisa complica! A cena da igreja é genial, uma surpresa mesmo. De rir agarrado à barriga...

as músicas saltam inteligentemente pelo reportório dos ABBA e cheias de surpresa, cheias de humor, cheias de vida. O cenário esse é paradisíaco!

Vale mesmo a pena ver e rever.

domingo, setembro 14, 2008

O menino afegão que soube continuar pequenino



















De tempos em tempos avistava um menino de trajes coloridos e simples esbatidos pela poeira levantada pela Guerra, tinha um andar seguro apesar das finas pernas que o sustentavam, nos pés levava uns sapatos gastos, três tamanhos acima, eram sapatos de couro já sem brilho, forrados a pó e terra, por dentro e por fora, achava eu, tal como o seu pequeno coração.
Aqui aprende-se a fugir das minas terrestres como quem brinca à macaca, nós privilegiados, temos carros com pés de aço, já quase não ouvimos os rebentamentos, já não os distinguimos da realidade. Mas este menino-rapaz tinha qualquer coisa especial, todos os dias levantava-se à mesma hora, ía ao mercado com o pouco dinheiro que sobrava, e , sobretudo, quando não havia, levava uma saca de nozes para trocar por alimentos. Todos os dia o via na minha ronda e passava sempre de sorriso desenhado no rosto brincalhão, a saltar por entre pedras esmagadas, nos trilhos dos nossos pés de aço, como eu fazia quando tinha aquela idade e caminhava para a escola, por jardins, pátios, escadas, pelos nós do passeio, pelas pedras calcárias do lancil , mas sem tocar nas frestas que as juntavam, como se de um jogo se tratasse, se tocasse nas frestas "perdia"! Aqui pisar o risco era diário e o medo já nos fazia companhia, mas, ainda assim, este miúdo, com um mundo de verdade à sua volta desta dimensão, onde havia casas de adobe sem famílias, já sem os seus amigos, mesmo assim, o rapaz Pashtun caminhava pelo seu passo alegre e desconcertante sempre com um sorriso de menino que nem mais esta guerra soube tirar.
No dia que me vim embora, procurei o rapaz e trazia comigo uma caixinha de música antiga, de tons azulados, que a minha namorada me tinha oferecido, tocava Mozart e todos os dias adormecia a ouvi-la, mas hoje, de manhã cedo, àquela hora, o menino não passou mais.

domingo, setembro 07, 2008

O senhor que tinha tudo nos bolsos...



















Havia um senhor que tinha uma profissão estranha e vivia numa casa ao fundo de uma rua muito inclinada. Ela era tão inclinada que mal se via o seu fim. Tudo o que se pedisse o senhor tinha nos bolsos do seu longo casaco de tons encarnados. Eram muitos os bolsos e mais ainda as coisas que eles tinham lá dentro! Tinha bolsos por fora por dentro, tudo eram bolsos! Nunca houve um dia que alguém o surpreendesse, até ter chegado a Francisca das pernas compridas, que não se conseguia apaixonar nem criar amizades por ter vergonha das suas longas pernas. Eis que um dia, cansada de tanto gozo na escola, e de ter poucos amigos, foi ter com o senhor dos bolsos ao fim da rua inclinada. Desceu e desceu a rua na tentativa de o encontrar o mais rápido possível e depois de perguntar pelo senhor do velho casaco cheio de bolsos lá o achou! Bom dia! O senhor é...o senhor dos bolsos? Sim, sou eu...respondeu o velho senhor de sorriso meigo. Agora vejo, os seus bolsos não têm botões! Porquê é que não têm botões senhor dos bolsos? - Bem, o meu casaco é muito antigo pertenceu ao meu Bisavô e ele deu o casaco ao meu pai e eu herdei-o assim como esta linda profissão, o meu pai contou-me que não precisamos de bolsos com botões porque estamos sempre a tirar coisas lá de dentro para oferecer às outras pessoas e assim é mais prático, não temos que andar sempre a abrir e a fechar os botões. Consigo arranjar tudo sabias? Aqui nos bolsos... O senhor leva a mão a um dos muitos bolsos e tira um lindo moinho de vento feito de papel cheio de cores. Toma é teu...
-Sempre quis ter um moinho de vento como este! Obrigada! Como sabias? -Bem, os Bolsos também adivinham o que as pessoas querem, disse o senhor rindo-se suavemente perante a menina Francisca das longas pernas fascinada.
-Mas senhor, será que consegue adivinhar o que realmente me traz a si?
-Bem, eu pensava que... disse meio engasgado, mas a menina interrompeu e acrescentou logo, -Sim, eu sei que sabe...são os bolsos não é? Os seus bolsos sabem tudo...
-Sabes Francisca...se calhar há coisas que estes bolsos podem não ter...
-Não é verdade senhor dos bolsos! disse prontamente, interrompendo. Afinal os seus bolsos têm mesmo tudo, afinal adivinhou o que precisava, e era mesmo o moinho, ou melhor, o que precisava era mesmo de um sorriso amigo, de me darem essa amizade sem eu ter que pedir. Sem olharem para as minhas pernas esquisitas apenas e troçarem de mim...
Sim, é verdade Francisca...disse o senhor no seu tom sereno... e assim foi a subir a rua depois de agradecer ao senhor dos bolsos, o seu novo amigo da rua muito inclinada de bolsos cheios de sonhos e cores, amizade e sorrisos. Até amanhã Senhor...

sábado, setembro 06, 2008

Fundação Oriente...



Museus a Oriente...

Hoje fiz uma jornada diferente, fui com uma pessoa muito especial que está sempre ao meu lado mesmo quando eu acho que não, foi muito divertido e sobretudo interessante. Hoje lembrei-me de várias coisas que que já gostaria de ter feito, mas como tudo, o tempo nestas coisas desacerta-se e acerta-se constantemente por um relógio escorregadio, mas tudo se encaixa, e lá fomos...
Decidimos ver a exposição do Arquitecto Peter Zumthor, melhor, do Mestre Peter Zumthor.

Poética...para mim não há projectos sem poética.

Bem, como se não bastasse e não fosse eu, João, o próprio do despassarado, lá fomos de encontro à Lx Factory perto do Calvário, estacionei a milhas, para variar, e lá fomos radiantes da vida. Eis que ao longe o cartaz indicava que a exposição só começa amanhã...-raios! Será que tenho que passar a confirmar duas vezes?...lá pensei e cheguei à conclusão que afinal hoje era apenas a conferência com o senhor que já está mega esgotada há meses! Enfim, mas como nada está perdido, e esta cidade tem sempre algo para oferecer, lembrámo-nos de passar ao Plano B! CCB. Fomos ver uma exposição que nos tinha passado a inauguração da última segunda-feira. Desenhos para Escritores, é assim que se chama esta exposição.
Desde Novembro do ultimo ano que não perco uma exposição temporária aqui no CCB... Mas também não foram muitas confesso! À partida esperava a presença da Ana Hatherly, do Almada Negreiros, Cesariny, etc... o clã Português de escritores/pintores...mas foi mais surpreendente!
A exposição começou logo com um problema! Falta de luz!!! Bem, Não se via assim grande coisa, parecia luz de velar mortos! Lá perguntei à rapariga que monotorizava e lá me respondeu que tinha que ser assim para não estragar os desenhos além de evidenciar os infractores das flashadas! ok, satisfeita a curiosidade lá começámos...
Havia desenhos de todos os tipos, uns muito pintados, uns muito riscados, outros só feitos com linha, como se de um Siza se tratasse, outros ainda pintados como se tivessem saídos das mãos de uma criança, outros directamente com pés de alguém; Era o que nos diziam na Cadeira de Projecto do Curso.
No fundo havia desenhos de nus, de velhos, de cenários, desenhos coloridos e apaixonantes, desenhos sonhadores, desenhos de quem escreve...
Destes fixei alguns nomes...(escrito nas costas de um talão Multibanco)

Charles Cross
Jean Cocteau
Max Jacob
Adré Breton
Léonora Carrington
Ghérasim Luca
Kurt Schnifters
Ana Hatherly
Tadeusz Kantor
Gunter Grass ( sabiam que este senhor, prémio Nobel, desenha que se farta? Daria um fantástico Naturalista! Fiquei de boca aberta.

A sério...vejam que merece a viagem...e claro depois ver mais um bocadinho da exposição Residente que está sempre em constante transformação.

Bem mas como em tudo, também tínhamos um plano C... lá fomos nós para o outro lado da linha em direcção a Oriente...Olha até foi mesmo!
Bienne, metidos no meu "preto-arranjado-e-como-novo" lá fomos visitar a Fundação Oriente num edifício Recuperado e Projecto pelo Arq.to João Luís Carrilho da Graça.

Outra grande descoberta e disso não restou a menor dúvida. O museu é extenso e muito bem composto! Viajamos por Objectos e por países... China, Japão, Tibete, Malásia, Timor, Indonésia, Coreia, Sirilanka, India, etc...
Fiquei deslumbrado com as máscaras da India e do Japão. As máscaras na sua maioria eram dedicadas ao culto e à devoção a um deus, mas também há o Teatro e outras celebrações.
Depois foram os biombos do Japão mais uma vez, depois uma colecção de frascos para guardar comprimidos que mais pareciam frascos de perfume! Mas todos diferentes, cada um com uma história por ser contada...
As cores, as texturas, a dedicação, o detalhe. Às tantas disse, falei pensando: Fantástico...
A cultura Oriental tem outra devoção, e esta exposição teve o condão de sublinhar o fascínio que tenho por ela.
Esta é imperdível, o espaço em si também é bom, primoroso, apesar de ser demasiado escuro às tantas...mas calma, não é precisa levar uma lanterna!

Por entre contadores, juncos de prata japoneses, armaduras de Samurais e Shoguns, tapetes, loiças, pinturas, leques... a colecção de máscaras era simplesmente divinal.

Foi uma tarde bem passada...a repetir, foi só pena a minha despassarice, mas como quase tudo na vida tem solução, ninguém ficou triste!